terça-feira, 1 de outubro de 2013

Assembléia Popular Horizontal


Horizonte. Em Belo Horizonte existe politicamente um horizonte. Assembléia Popular Horizontal. A turma vai lá, de microfone aberto, discute, propõe, discorda, concorda, toma suas resoluções. Apresentam essas resoluções ao poder público que, no mínimo, tem que os ouvir. Já é um horizonte?

A APH tem vários outros mecanismos de democratizar o acesso às discussões e proposições de todos que desejam participar. Páginas eletrônicas (http://bh.assembleias.org/ ---https://www.facebook.com/AssembleiaPopularBH) permitem que qualquer pessoa se manifeste, proponha temas, até agende reuniões, convoque a Assembléia. 

Os trabalhos estão a todo vapor, a todo tempo novas resoluções e propostas são enviadas ao poder público. São várias as demandas e dentro das possibilidades elas estão sendo discutidas e quiçá viabilizadas.

A ideia da Assembléia urgia dentro de todos que a aderiram. Foi praticamente uma consequência da pulsão que culminou com as manifestações à época da Copa das Confederações. A assembléia surgiu oficialmente em 18 de junho de 2013.

A horizontalidade na democracia tem sido discutida há muito, tanto no meio acadêmico quanto na prática democrática. Em alguns países, como a Islândia por exemplo, a nova constituição que foi proposta já é um avanço nesse sentido (veja artigo de Vladimir Safatle: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/73502-um-pais-estranho.shtml,http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2013/07/1304694-medo-das-massas.shtml). O detalhe é que a Islândia tem apenas trezentos mil habitantes, ou seja, só Belo Horizonte é dez vezes maior. Lá, escolheram 25 cidadãos aleatoriamente para que formulassem a nova constituição. Obtiveram sucesso nessa empreitada e em meio a crise européia que assolou o continente não sentiram os seus efeitos.

Voltando a Belo Horizonte, o maior desafio, a meu ver, é que: discutir política onde já partimos do pressuposto que os conceitos políticos, formulados na academia, têm um prévio entendimento entre os "iguais" facilita bem o diálogo. Teses anarquistas, marxistas, capitalistas são discutidas com facilidade ali naquele meio. Por mais horizontal que se intente, são pessoas em sua maioria com acesso a esses conceitos e entendimentos acadêmicos, uma linguagem acadêmica. Por fim, uma minoria. Horizontal mas ainda sim limitada a uma elite política, pois a linguagem tal como é entendida ali é inerentemente política e exclusiva de uma pequena parcela da sociedade. 

O maior desafio seria horizontalizar essa "forma de dizer", essa linguagem. O desafio é, horizontalizando essa linguagem, esse discurso, alcançar a maior parte da população que ainda se vê distante dessa inclusão democrática horizontal. É alcançar os que serão os protagonistas em suas vilas, favelas, bairros distantes, marginalizados fisicamente da cidade. É dizer de Marx, Adam Smith e Bakunin na prática, não na teoria. É descomplicar o entendimento. É comunicar. Sem a pompa da academia.

Leonardo S. Faria

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