terça-feira, 16 de julho de 2013

Uma alegria fugaz


Rotina. Cidade grande, lotação, engarrafamento, subemprego, desentendimentos no trabalho, família, um transeunte, pressão por todos os lados, não aceitação, não realização. Sonho. Tranquilidade, carro do ano, salários dignos, viagens, avião, um grande emprego, um grande amor, ser aceito por todos, querido, engraçado, elegante, bonito...feliz. 

Com sonhos tão grandiosos é fácil encontrar um motivo para a frustração. Quando entro em um metrô lotado com aquele tanto de gente espremida penso: Quantos sonhos aqui reunidos! Quantas possibilidades de sonhos e caminhos a percorrer para além daqueles trilhos! Caberão tantos sonhos nessa realidade crua, inexorável? 

A possibilidade, mesmo remota, de se tornar um sucesso no trabalho, nas relações, no amor, impulsiona a vida. Aos poucos, as coisas muito grandiosas vão cedendo lugar aos pequenos momentos de alegria. Percebe-se que é muito mais grandioso o olhar do que o próprio fato em si. A dimensão da grandiosidade está do lado de dentro. Tudo o que é demais está nos cinemas, novelas, televisão e o indivíduo que tem como parâmetro de normalidade aquilo que ele vê nas telas da ilusão é fadado ao sofrimento. Os iguais andam de ônibus e metrô. Não dá pra ter um jatinho particular e uma mansão individual pra todo mundo. 

Há alguns momentos em que nos sentimos iguais de fato. Onde percebe-se a complexidade do convívio social. Alguns são incômodos, como uma lotação no meio do engarrafamento. Outros são alegres, como na praia, um dos lugares mais democráticos do mundo, onde todos estão resumidos a um calção e um chinelo no máximo. Nos estádios de futebol, onde todos estão vestindo a camisa do seus times, torcendo juntos, esquecendo-se por um momento de seus sonhos e frustrações individuais. Onde sultões, pés de chinelo, classe média, numa mistura de anseios não alcançados, sonhos não vividos, esperam pelo grito de gol. E naquele pequeno instante, abraçando-se todos, numa mistura única, só permitida e existente ali, todos sentem-se iguais. Todos acreditam por um momento que são um sucesso. 

Uns chamarão de grande bobagem, a vida é muito mais do que isso, dirão outros. Mas para alguns a vida é feita pequenas parcelas de alegria que impulsionam o existir. O que para muitos não é nada, para outros a vida não é nada mais que um momento de alegria entre vários de percalço. E sim, em meio a tantas coisas francas e inescapáveis que a vida nos oferece, eu quero um instante de alegria fugaz. 

Leonardo S. Faria
leozleo@gmail.com

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