sexta-feira, 10 de maio de 2013

A Copa, O Estado, o Direito e a sociedade


Nesta farra que que o Brasil está prestes a presenciar, todos os envolvidos são maiúsculos e vem, em ordem, primeiro que a sociedade. 
Certamente a festa estará garantida. À Fifa, lucros exorbitantes. Ao Estado e seus representantes, palanque político, projeções pessoais, irresponsabilidade com o dinheiro público que obviamente não são eles que suam conseguir.
Aos cidadãos, qualquer imposto ou conta que deixam de pagar sua penalidade é certa e não tarda. Cortes de luz, telefone, água, prestação de contas à receita. A lei cumpre bem seu papel quando se trata de uma sociedade que pouco se vê abraçada por seus representantes políticos. 
A estes últimos a legislação punitiva é leniente diante de suas obrigações não cumpridas e abusos na administração pública. Pelo contrário, é permissiva: Punições que nunca ocorrem, investigações que não se concluem, foros privilegiados, prazos em dobro, recursos intermináveis. O Direito para aqueles que deveriam representar a sociedade é maiúsculo. Para o povo a lei. Ou nem isso. 
Em Minas, diante do desrespeito ocorrido na reinauguração do Mineirão alguns torcedores entraram na justiça. Banheiros inacabados, falta de água, bares fechados, tudo isso ao custo de um caro ingresso. Ouviram em sentença que boi deve ser tratado como boi. Aliás, até mesmo os bois não ficam sem seus potes de água, ração e sal grosso. Mas para cidadãos conforto é que não se pode esperar, segundo o juiz, representante maior da lei. 
Em todo o Brasil a sociedade foi e vem sendo massacrada pelos mandos e desmandos dessa entidade futebolística com a leniência de seus representantes políticos, amparados por uma lei sempre relativizada para atender a interesses específicos.
Desapropriações irregulares, indenizações medíocres, diante de obras que supostamente  trarão melhorias no transporte, na urbanística das cidades. Pequenos comerciantes, já sem forças para gerir a empresa, ficam meses sem o movimento já parco que sustenta seus negócios em função dessas obras duvidosas. Quebradeira, demissões. Não há alternativa. O governo diz que futuramente essas obras trarão benefícios. Mas eles não podem esperar uma promessa que geralmente não se cumpre.
Impressionante mesmo é que estes mesmo representantes políticos que agora se lançam e provavelmente fazem seus pés de meia, acostumados com o jeito brasileiro de fazer política, não percebem que também são vítimas de sua postura moralmente reprovável. Servem-se de marionetes desta que é a única e exclusiva beneficiária destes acontecimentos, a entidade privada FIFA.
Toda essa visibilidade política que essas marionetes agora angariam tem um alto preço. Quando a festa acabar, a sociedade, o Estado, a Lei, o Direito ficarão todos por aqui.
Em cada momento que o braço forte da lei usurpar desse cidadão minúsculo sua dignidade, beneficiando alguns que agora estão no poder, será ele mesmo cobrado depois.
O próprio Estado gera conflitos que ele mesmo depois terá que arcar financeiramente. Conflitos que movimentarão a máquina judiciária, executiva, legislativa, gerando custos e mais custos. Depois os representantes serão outros. Esse é o vício nacional de fazer política. Não existe projeto de nação. Existe o interesse agora, do momento, pessoal.
Mas certo é que a conta é de todo mundo. E quando ela vem em forma de um revólver na mão, de uma criminalidade incompreendida, a custo de vidas inocentes, ele é muito maior do que um tostão.

Leonardo S. Faria

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