quinta-feira, 6 de junho de 2013

Vilão


Nada deve ser melhor que interpretar um vilão. Ele tem sofrimento certo, mas rápido, certeiro. É feliz durante todo o enredo. No entedioso e esperado final ele sofre, é maltratado, humilhado e morre. Assim, num estalo!
Já o bonzinho, o mocinho, carrega a pecha da moralidade, dos bons costumes, da ética, como uma cruz. Seu caminho é um calvário. São todos, no fundo, Jesus. Esperam - e têm certeza disso - o seu pedaço do céu, tão sofrido, tão sonhado. 
O mundo da arte é fabuloso. Causa admiração, euforia popular, ataque de nervos, chiliques. Mexe com o imaginário. Mas é a imitação alegórica da vida real. Sem chilique, sem faniquito, nua e crua.
O sucesso do vilão como personagem, nada mais é que o desejo inconsciente de esquecimento momentâneo dessa ética de ovelha, que no fundo, tem como seu desejo maior se tornar o lobo do final.
As grandes cidades vivem dias de horror com a violência urbana. A violência é privativa do Estado e seu aparato policial, e dos seres que não se submetem à ele, chamados bandidos, marginais. O cidadão comum não está aí. 
Naquela histórica campanha de desarmamento quem entregou sua arma? O cidadão comum certamente confiou nessa campanha. Mas pra quem já não tinha nada a perder ou a temer não se solidarizou com ela. O Estado cada vez mais armado e armando-se. Quase a totalidade das armas em circulação é oficial, de uso restrito, inclusive as encontradas na ilegalidade. É um mercado, exclusivo e fechado. Nele a ovelhinha cidadã não entra.
A arte imita a vida. Se alimenta dela. Nesse mundo hipotético o lobo apronta tudo e todas e ao final se dá mal. E até as ovelhinhas, por mais pesada que seja sua cruz, tem ao fim, seu momento esperado. O de ser lobo. E de fazer aquele lobo virar ovelhinha. Aplausos! É o espetáculo! Mas vida não imita arte.

Leonardo S. Faria
    

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

opss!! Sensacional!! KKKKK!!
Eu dinovo!